domingo, 24 de janeiro de 2016
Gralha Negra em Tempo Chuvoso
Naquele rígido ramo ali no alto
Arqueia-se uma encharcada gralha negra
Arranjando e rearranjando as suas penas à chuva.
Eu não espero um milagre
Ou um acidente
Que ateie um fogo nesta visão
Dos meus olhos, nem busco
Mais no volúvel clima algum desígnio,
Mas deixem folhas pontilhadas cair como caem,
Sem cerimónia, ou portento.
Embora, admito, desejo,
Ocasionalmente, uma resposta malcriada
Do céu mudo, não posso honestamente queixar-me:
Uma certa luz menor pode ainda
Saltar incandescente
Da mesa ou da cadeira da cozinha
Como se um incêndio celestial tomasse
Posse dos objectos mais obtusos de vez em quando –
Assim permitindo um intervalo
De outra maneira inconsequente
Em conferindo liberalidade, honra,
Dir-se-ia até amor. De qualquer modo, falo agora
Circunspecta (pois poderia acontecer
Mesmo nesta paisagem aborrecida, ruinosa);
cética, porém diplomata; ignorante
De qual anjo escolheria fulgurar
Subitamente no meu ombro. Só sei que uma gralha
Ordenando as suas penas negras pode brilhar de tal modo
Que prenda os meus sentidos, alar
As minhas pálpebras, e conceder
Uma breve trégua ao medo
De total neutralidade. Com sorte,
Teimosamente atravessando esta estação
De fadiga, eu irei
Improvisar um qualquer
Contentamento. Milagres ocorrem,
Se te importares em nomear esses espasmódicos
Truques de esplendor milagres. A espera recomeçou,
A longa espera pelo anjo,
Por essa rara, fortuita descida.
in Sylvia Plath, Crossing the water - transitional poems
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