quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

De Berlim a Lisboa VIII

Muskiz, Bilbao

recolheu-nos a pobreza
a névoa a lama
um verde esmorecido
um mar em novelos de areia
o frio a contrariedade
como se a descida pelo litoral
aliasse o literal e o metafórico
para o justo sentido da queda

quando queríamos ficar partíamos
quando para partir ficávamos
e a tristeza ajustava-se a toda a paisagem
e corpos desde o céu ao mole dos passos
até os esgotos corriam envergonhados
para pluviosos ribeiros a um ritmo pastoso
tudo se arrastava pelas serras num aparecer
e desaparecer do mundo sem perder a sua presença

a cidade reticulada no vale com a gigante aranha
não tinha qualquer brilho nem nos deslumbrou
o museu que a recolocou no mapa dos arquitectos
só a tensão se acumulava electricamente como a cúpula
de redoma nublada antes da tempestade seca cobrindo-nos
uma pele voltaica e o trovão prestes a ribombar na garganta
pensámos ser este o fim da viagem e de todas as surpresas
já que nem a casa laranja e rústica incendiava o dia ou a noite

o sufoco enodava-se em torno do porquê
termos principiado a necessitada mudança que tardava
como se a pergunta pedisse qualquer resposta
mas tanto acontece que o óbvio tem de ser demonstrado
e o amor do outro reconhecido até ao justo sentido da queda
e em caindo façamos aí amor
e como duas crianças aprendamos
a pôr-nos de pé e novamente caminhar

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