sábado, 21 de novembro de 2015

Espelho




Sou de prata e exacto. Não tenho preconceitos.
Tudo o que vejo engulo imediatamente
Tal qual é, desenevoado de amor ou desagrado.
Eu não sou cruel, só verídico –
O olho de um pequeno deus, enquadrado.
A maior parte do tempo medito sobre a parede oposta.
É rosa, com salpicos. Observei-a por tanto tempo
Creio que faz parte do meu coração. Mas tremeluz.
Uma e outra vez rostos e escuridão nos separam.

Agora sou um lago. Uma mulher aproxima-se de mim,
Procurando nos meus recantos pelo que ela realmente é.
Depois volta-se para esses mentirosos, as velas ou a lua.
Vejo as suas costas, e reflito-as fielmente.
Ela recompensa-me com lágrimas e uma agitação das mãos.
Sou importante para ela. Ela vem e volta.
Cada manhã é o seu rosto que substitui a escuridão.
Em mim afogou uma jovem rapariga, e em mim uma velha mulher
Ergue-se para ela dia após dia, como um terrível peixe.


in Sylvia Plath, Crossing the water - transitional poems

Sem comentários: