ambos queremos a vida
tu na partida forçada abandonando
uma morada enraizada em história
eu no seio de um acolhimento amedrontado
ouvindo que o enxertar do teu ramo
no tronco da minha língua
desnutrirá esta terra
como chorões cobrindo as dunas
ambos queremos o tempo do nosso lado
pensamos nos milénios da natureza e do homem
contemplamos a beleza edificada
no esforço dos elementos por exemplo
o mar escavando a rocha para o sexo marítimo
o vento vergando o bambu para a coreografia dos corpos
o sol curtindo a erva para a passagem das mãos
o gelo alastrando a brecha cruzada pelas pontes afectivas
juntos somos escultores persistentes não arquitectos
permanecemos incapazes de desenhar um lugar
para o fluxo de todos os corações
já devíamos ter chegado
à maturidade do desnudamento e da renúncia
dos valores do medo e do verter do sangue
nunca deixámos de ser náufragos
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