quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Rui Almeida - "os meus versos sabem mais da esperança do que eu

Sabes de quem foste camarada e sabes
A forma irregular e escondida como abraçaste
Cada um dos que entornou para dentro

De ti o líquido da delicadeza, a sombra
Da amizade. Dormes agora desfeito,
As pernas encolhidas debaixo do corpo,

Mentes a ti próprio e não sabes. Vai 
Devagar até ao ponto onde deixaste
Ficar a marca da tua mão na areia. Volta 

Sem esse medo entranhado, bem
Sabemos que não é fácil. Não é fácil essa
Pouca morte a lamber-te os pés, a subir

Sem que possas sequer gritar por outra
Vida mais encostada à almofada dos teus
Dias. Come desse pão, limpa essa mesa onde

A infância te deu as ilusões possíveis. O mar,
Sempre o mar, está longe, por dentro de cada
Um dos teus ouvidos, derramando-se,

Abundante. Sabes onde estás, não sabes
Para onde te leva a fome, a vontade
Ou a ausência de deslumbramentos. Vai.

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