Na morte de Sylvia Plath
Esperamos de pé atrás da linha, nus.
Quem está à frente procura recuar
quem está atrás procura avançar.
Fazem um lance sobre as nossas cabeças.
Quem mais medo tem mais tem a recear -
ninguém sabe para o que é escolhido.
Acabei de ouvir a má nova,
eu que escapei por milagre à morte
chora agora a morte da minha irmã.
O mene tequel é um animal,
uma formiga, um caranguejo, a rastejar
sobre carris quentes com pinças negras de carvão.
O consolo para quem não tem abrigo
nunca vem em forma de tecto
mas da boca de desabrigados.
Para a criança espantada que
ainda não nasceu, o espaço
não se volta do avesso.
Que se vá refugiar junto
dos lobos, se ainda houver
desses lobos maternais.
in Judith Herzberg, O que resta do dia, antologia de poesia com um texto em prosa, Lisboa, Cavalo de Ferro, 2008: 43
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