segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Miguel-Manso - 4 poemas-texto

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O livro-direcção não responde professoralmente. Menciona apenas um ponto sobre a pupila, pousado na córnea. E no aludir desse ponto-no-tempo, um fechar de pálpebras. O que conduz à pré-visão de que o alevantado miradouro de todos os vislumbres, o portão que escancara o vazio que tudo guarda, acontece atrás do olhar. O livro que pensas ser o autor é o fuso assombrado no qual te feres para adormecer durante cem mil anos. Será esse o atalho para o imanente, porque quem dorme para lá do suposto já não espera acordar

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Livro-paisagem com autor a escorregar - locus horrendus - nas tendências perigosas da autobibliografia

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Também uma violência topológica: olhando de forma positiva para o conjunto dos livros dizemos: cada um acrescenta um andar ao edifício, começa onde o outro ficou. Se, de outro modo, decidirmos adoptar um ponto de vista negativo dizemos: o primeiro livro afasta de maneira irreversível a possibilidade de outro primeiro livro; cada livro que for sendo publicado não ocupará apenas o seu lugar

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Diagnóstico: padeces de Hermes labial


in Miguel-Manso, um lugar a menos, Lisboa, ed. autor, col. os carimbos de gent, 2012: 23, 25, 27 e 68

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