Aquele
Que fala por entre o doce murmúrio dos ramos
E pelo meio das pedras
Negras e consteladas,
Aquele que dança
Na voz da água e no fogo,
Que traça círculos
Que ainda ninguém pressente,
Que caminha e não caminha,
Esse será possivelmente uma sombra,
Uma promessa ou a voz do anjo branco?
(para Thomas)
*
Alguma coisa do indefinido
E do incomprensível,
Algo está aí a chegar
Que já as aves anunciam
E o verde tumulto das folhas.
Algo muito semelhante ao vazio
E à promessa
Tão esperada.
*
Aquele
Que entreabre a boca
Por um instante que seja,
Esse estará talvez esquecido de
Que o seu corpo é todo ele feito de aves,
Árvores voadoras e constelações de fogo.
E que desta maneira e pouco a pouco
Se esvaziará disso,
De tudo isso.
*
Aquela,
Três vezes velada
No inteior do nome e da língua,
Essa cujo rosto está sentado
Com pássaros e poemas inacabados,
Essa que empresta a voz
Às nuvens e à transparência da lâmpada,
Consegues ouvi-la
A caminhar já sobre o teu rosto?
*
Mergulha o teu olhar em sua própria limpidez
E no sussurro da língua.
Não deverás cantar depois senão o invisível
E a precariedade de tudo.
in Yves Namur, Figuras do muito obscuro, Lisboa, Cavalo de Ferro, 2005: 65, 75, 80, 109 e 117.
Sem comentários:
Enviar um comentário