domingo, 6 de maio de 2012

Yves Namur - 5 poemas

Aquele
Que fala por entre o doce murmúrio dos ramos

E pelo meio das pedras
Negras e consteladas,

Aquele que dança
Na voz da água e no fogo,

Que traça círculos
Que ainda ninguém pressente,

Que caminha e não caminha,

Esse será possivelmente uma sombra,
Uma promessa ou a voz do anjo branco?

(para Thomas)

*

Alguma coisa do indefinido
E do incomprensível,

Algo está aí a chegar

Que já as aves anunciam
E o verde tumulto das folhas.

Algo muito semelhante ao vazio


E à promessa
Tão esperada.

*

Aquele
Que entreabre a boca
Por um instante que seja,

Esse estará talvez esquecido de
Que o seu corpo é todo ele feito de aves,
Árvores voadoras e constelações de fogo.


E que desta maneira e pouco a pouco
Se esvaziará disso,

De tudo isso.

*

Aquela,

Três vezes velada
No inteior do nome e da língua,

Essa cujo rosto está sentado
Com pássaros e poemas inacabados,

Essa que empresta a voz
Às nuvens e à transparência da lâmpada,

Consegues ouvi-la
A caminhar já sobre o teu rosto?

*

Mergulha o teu olhar em sua própria limpidez
E no sussurro da língua.


Não deverás cantar depois senão o invisível
E a precariedade de tudo.


in Yves Namur, Figuras do muito obscuro, Lisboa, Cavalo de Ferro, 2005: 65, 75,  80, 109 e 117.

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