terça-feira, 15 de maio de 2012

António Barahona - 5 poemas

Deixou-se escorregar pelo silvo da flauta
como em criança no corrimão da escola

*

à memória de Ruy Belo

Era puro, por uma madrugada de setembro
quando o poeta se vislumbra a morder o mundo:
cintilar mudo que surde da azález sorrindo
um outro texto em um outro ermo assíduo

Berlenga, 15.IX.79


*

Tu mesmo é que conheces a tua grandeza
somente mensurável com a de Deus
na Sua magnitude minha heterodoxia
implicado na dúvida até aos ossos da chuva

*

Procuro tornar-me num monstro pra morrer só
De outro modo não teria olhado para ti
O abismo onde as crianças gostam de subir

*

Ao sol poente logo de manhãzinha
por outono morro
de amor por ti que não te vejo


in António Barahona, Rizoma, Lisboa, Guimarães editores, col. poesia e verdade, 1983: 34, 52, 63, 65, 67.

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