quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

poema antigo (revisão)

há um corpo deitado
no azul da noite turquesa e
o abdómen explode inspirando-se.
a pele inflamada de transpiração
e luz. luta a respiração, luta
eclodindo ao longo do labirinto
dos músculos experimentando uma fuga
onde a luz toca na pele e a noite cai
nos extremos dos olhos. a voz brota
na garganta presa como um caroço
onde bate, osso contra osso,
intumescida a língua.

molhados os lábios brilham.
reflectem a mordedura tensa
a asa da borboleta nos dentes.

as borboletas dançam
pela noite que fere
as asas e não pela luz que apaga
a noite no corpo.
borboletas azuis num monte de folhas
arejando a terra em febre,
ou na cicatriz do sexo quente,
pousando pendentes de uma folha
que caiu no queixo duro.
a mão afasta uma comichão
é um pássaro alisando as asas
e expulsando as desnecessárias
plumas como pulgas a mais no pêlo.

o musgo embebeda-se passa a seda
cheirando a caril ou argila
entre as unhas. tudo falha
menos tu meu amor
com uma mão no sexo
e dois dedos na boca
pressionando a língua.
as horas passam num vagar
de ópio com o pio de aves nocturnas.
morcegos como pontos negros
alados gritam por borboletas
as folhas ondulam
cobrindo o morto de cansaço
com a pele vergada por ramos.

este é o corpo deitado na noite azul
contando os segundos
até que a larva que lhe cobre a boca
se torne uma borboleta
e lhe mascare o rosto
com nada a dizer
e uma história no corpo
por se decifrar.

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