Senhora, vosso quarto está repleto de flores.
Quando me puserdes fora, é disso que me lembrarei,
Eu, aqui sentada aborrecida como um leopardo
Na vossa selva de candeeiros de garrafa,
Almofadas de veludo da cor de pudim de sangue
E voadores peixes de porcelana de Itália.
Esqueço-vos, escutando as flores cortadas
Gotejando os seus líquidos de vários vasos,
Jarras e cálices de coroação
Como bêbados de segunda-feira. As amoras leitosas
Verguem-se, uma constelação local,
Em direcção aos seus admiradores no tampo da mesa:
Turbas de globos oculares olhando para cima.
São pétalas ou folhas o que com eles emparelhastes –
Esses ovais verde listrados de pano prateado?
Os gerânios vermelhos conheço-os bem.
Amigos, amigos. Fedem a sovaco
E às complexas doenças de outono,
Almiscarados como as camas dos amantes na manhã seguinte.
As minhas narinas picam com nostalgia.
Bruxas de hena: pano do vosso pano.
Eles dedilham água velha espessa como nevoeiro.
As rosas na bilha
Desistiram do fantasma ontem à noite. Na hora certa.
Os seus espartilhos amarelos estavam prestes a quebrar.
Tu ressonaste, e eu ouvi as pétalas a se desfecharem,
Tamborilando e tacteando como dedos nervosos.
Deverias tê-las deitado fora antes de morrerem.
A madrugada descobriu o tampo do escritório
Cheio de mãos de porcelana. Agora sou observada
Por crisântemos do tamanho
Da cabeça de Holofernes, mergulhada na mesma
Cor magenta como o deste rechonchudo sofá.
No espelho os seus duplos apoiam-nos.
Escuta: os teus arrendatários ratos
Estão a chocalhar os pacotes de bolachas. Farinha fina
Silencia os seus pés de pássaro: eles assobiam pela alegria.
E tu dormitas, nariz contra a parede.
Este chuvisco assenta-me como um triste casaco.
Como fizemos para chegar ao sótão?
Tu deste-me um gin num copo saído de um vaso.
Dormimos como pedras. Senhora, o que faço
Com um pulmão cheio de pó e uma língua de madeira,
Mergulhada até aos joelhos de frio e inundada de flores?
in Crossing the water - transitional poems
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