terça-feira, 16 de novembro de 2010

As babysitters





Faz dez anos, hoje, desde que remámos para Children’s Island.
O sol inflamava-se a pique nesse meio-dia na água de Marblehead.
Nesse verão usávamos óculos escuros para esconder os olhos.
Chorávamos a toda a hora, nos nossos quartos sobressalentes, desprezadas irmãzinhas,
Nas duas, enormes, brancas, lindas casas em Swampscott.
Quando apareceu a namorada de Inglaterra, com a sua pele cremosa e cosméticos Yardley,
Tive de dormir no mesmo quarto com o bebé numa estreita cama,
E a criança de sete anos não saía senão quando as suas calças listradas
Combinassem com as listras das suas meias.

Oh era opulência! – onze quartos e um iate
Com uma polida escada de mogno para descer à água
E um camareiro que conseguia decorar bolos com glacé de seis cores.
Mas eu não sabia cozinhar, e bebés deprimem-me.
Noites, eu escrevia no meu diário rancorosamente, os meus dedos vermelhos
Com triangulares marcas de queimaduras de passar a ferro pequenas pregas e mangas enfunadas.
Quando a desportista mulher e o seu marido doutor partiram num dos seus cruzeiros
Deixaram-me uma empregada emprestada chamada Ellen, “para protecção”,
E um pequeno Dálmata.

Estavas bem melhor na tua casa, na casa principal.
Tinhas um roseiral e uma cabana para hóspedes e um boticário modelo
E uma cozinheira e uma empregada, e sabias da chave para o bourbon.
Lembro-me de tocares “Ja-Da” num vestido de piqué rosa
No piano da sala de jogos, quando as “pessoas grandes” estavam fora,
E a empregada fumava e jogava bilhar debaixo de um candeeiro esverdeado.
A cozinheira tinha cataratas num olho e não conseguia dormir, ela era tão nervosa.
À experiência, na Irlanda, ela queimou fornada atrás fornada de biscoitos
Até que foi despedida.

Oh o que caiu sobre nós, minha irmã!
No dia de folga que tanto chorámos por ter
Levantámos um presunto doce e um ananás do frigorífico dos adultos
E alugámos um velho barco verde. Eu remei. Tu leste
Alto, pernas cruzadas no banco da popa, do Generation of Vipers.
Assim cortámos para a ilha. Estava deserta –
Uma galeria de alpendres rangentes e plácidos interiores,
Parados e feios como uma fotografia de alguém se rindo,
Mas dez anos morto.

As ousadas gaivotas mergulharam como se elas fossem donas de tudo.
Nós apanhámos paus naufragados e desandámo-las dali para fora,
Depois descemos o declive para a prateleira da praia e daí para a água.
Chutámos e falámos. O sal seco manteve-nos acordadas.
Vejo-nos lá a flutuar, ainda, inseparáveis – duas bonecas de cortiça.
Deslizámos por entre que fechadura, que porta se trancou?
As sombras das ervas incharam ao redor como mãos de um relógio,
E dos nossos continentes opostos acenamos e chamamos.
Tudo aconteceu.

Sem comentários: