sexta-feira, 1 de outubro de 2010

sublime



i

(apreensão de algo grandioso que sugere a ideia de informe, indefinição, caos e ilimitação)

frente a frente
rosto a rosto
os teus lábios avançam
esmagando os meus
um pouco de ar
percorre o labirinto e tudo
se suspende, mergulha
não mais do que a pele
mas toda a pele se abre
poro a poro abismado
para a queda de todo o corpo
a carne engolfada, uma
na outra, dobra-se, estira-se
volve e revolve, o toque
muda o corpo em mundo
tudo se agiganta
deserto oceâno cordilheira.


ii

(suspensão do ânimo e despertar do sentimento de angústia e temor)

tudo ganho tudo
perdido, vamos desaparecendo
o que nos resta é esse negro
que nos rodeia e descerrando
os olhos a pupila
é todo o sem fundo
por onde o deserto grão
a grão o mar engole.


iii

(consciência da própria insignificância face à magnitude incomensurável)

és tu sou eu
o grão no grão, a gota
na gota, mais pequeno
ainda, isto e nós
nada


iv

(reacção à dor mediante um sentimento de prazer resultante da apreensão da forma informe por meio de uma ideia da razão (infinito da natureza, p.ex.))

e afinal
tudo tu eu
a boca de cada um
a língua a respiração
a pele só tocada
os corpos só encontrados
a sós no corpo
a voz do desejo


v

(cumprimento da mediação entre o espírito e a natureza em virtude da sensibilização e da infinitude; redução do infinito no finito, suspensão de dualismos como a razão e sensibilidade, númeno e fenómeno, moralidade e instinto)

e dizes e eu digo
amo-te
seja o que isso fôr
ao que se viveu
ao que se vive.

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