"O coração é sempre de um pensamento finito. Ele pensa, pois o coração está lá onde isso (ça) pensa, não somente aí onde isso (ça) sente, ama, deseja. Nele pensa-se um pensamento finito. Tu és (estás) também (n)a minha morte. Tu, tu guardas-no-la (tu me la garde), tu proteges-me (tu m'en garde) sempre um pouco, não é, da morte. Guarda-no-la pois um pouco, por favor, só mais um pouco, mas guarda-no-la o mais possível, o melhor possível, o mais tempo possível.
O que nomeia o «coração», no fundo, não é o lugar último do luto absoluto? O santuário de que se protege, guarda, quando nada mais se pode proteger, guardar? guarda dentro de ti, como se diz muitas vezes, para nomear aquilo que infinitamente excede o interior? O espaço sensível, mas invisível e intocável para o que se guarda não só na memória, não só em si, mas em ti em mim, quando tu, tu és agora maior, um coração em mim maior que o meu coração, mais vivo que eu, mais singular e mais outro do que o que eu posso antecipar, saber, imaginar, representar, me lembrar? Quando o «meu» coração é primeiramente o coração do outro, e pois, sim, maior que o meu coração no meu coração?"
Jacques Derrida, Le toucher - Jean-Luc Nancy, Paris, Galilée, 2000: 325
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