a manhã com as suas proibições
para o esquecimento. um ano inteiro não será suficiente
já só conhecia os dias onde tu os frequentavas, o sítio
em tristeza. este é o meu endereço, um lugar composto
sem luz, os quadros inacabados, a cama húmida
a dizer: nenhum futuro neste sofrimento.
parece que nunca tiveste um princípio.
nós fomos prometidos ao amor pela terna mistificação
ignorando o apelo desabrido que esbarrava
entre o logro da linguagem e as visões
por trás dos teus olhos. parecia que não bastava
medir uma distância dentro de mim próprio
para lugar nenhum. mas eu só posso fazer
entre nós
espaço que chegasse para os dois.
uma casa foi inventada para sustentar o espaço
uma coisa tão rara
ao teu lado. generosamente pousaste a mão.
uma nuvem, dois cães nas ondas de erva
devia ter sido um princípio
quando a luz veio
nos cantos da tua boca, em julho
e descompassado, viam-se algumas flores
um bom lugar para o sono. e contra isso, tu também não tens muitas hipóteses
se pudesses ver como isso às vezes me magoa.
que havíamos de ser sempre assim, como sabíamos
nos despenhadeiros da terra
no fim de tudo caminhávamos abraçados
a rotina dos subúrbios, tinham herdado a consciência
é um silêncio tão grande entre os campos de milho, quase
assustadora
a sua lenta função
que nos serve tão bem esta jornada
para ti, certamente o tempo poderia ser
o que ainda nos sobrava, o que haveria de ser
na memória, lastram por dentro os olhos, no poço
mas as ondas recurvavam com fastio e eu regressei ao molhe
às fundações do vale. e como parece branco o nítido inverno.
a partir de música antológica & onze cidades de rui pires cabral
4 comentários:
"uma casa foi inventada para sustentar o espaço" - Não sei porquê mas isto parece-me fantástico.
pois...quem me dera ter sido eu a escrever, a encontrar este verso. o rui pires cabral tem coisas boas.
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