A solidão de ser sem o homem amado.
Paradoxo.
Amo-te porque me violaste aos dezassete anos.
Amo o meu violador.
Não, meeting na Mutualité sobre a violação, todas sentadas no chão e discutir fumar rir cantar.
Conclusão.
O marido é cúmplice do violador.
Todos os homens são violadores.
A sociedade de mulheres sufoca-me e por isso amo as minhas pequenas amigas.
Onde fugir?
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Quando alguém se encontra entre nós, diz-se que eram “amores de donzela”, que os amámos demais.
Uma mulher não pode mais amar.
Como ser mulher?
– Dou-te dez mil…
Recordação do hospital:
Ela arrasta-se para um bar segue três homens de carro e deixa-se violar indiferentemente. No seu quarto, ela engole uma garrafa de NOZINAN e descobre-se no hospital.
A “sala de irrecuperáveis” de Saint-Anne. Vinte camas apertadas, as W.-C. abertas num canto, uma grande banheira de cobre que a enfermeira enche à caçarola.
Cada doente nu aguarda o banho obrigatório. A vigilante com o seu molho de chaves preso à cintura. O minúsculo pátio com duas árvores e um banco.
Estive lá.
É o entristecimento, a busca do enternecimento. Encontro uma rapariga do hospital, trinta anos, dura e seca, cabelos escassos, que me confia o seu desânimo.
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– Não faço amor há dez anos… Aos vinte e quatro anos, eu desejava todos os homens… Eu queria deitar-me com todos os homens mesmo o açougueiro, agora tranquei-me num quarto para me punir.
– Mas o desejo existe, não está posto num só homem, é uma curiosidade que existe numa idade em que o desejo sexual se desperta…
– O meu psiquiatra disse-me que não era normal e trancou-me no hospital.
A noite, arrastamo-nos com os sinos, velhos nos cocktails da avenida Matignon, alguns cadáveres e os ossos à beira da cova. A pintura com cem anos de atraso. Um empregado de branco serve o champanhe.
Champanhe atrás de champanhe, a minha cabeça incha de solidão.
Giro e caminho pela avenida. Todo o meu ser é um autómato que avança em direcção ao silêncio da minha cama.
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Depois de três anos não fazemos mais amor.
Tu queres conversar (tu também?).
Tu vens falar duas vezes por semana com o psiquiatra.
Escapas enquanto me afloras os lábios.
Sonho com um beijo quente.
Estou farta da palavra, da tua palavra, das tuas explicações sobre a nossa separação.
Assim encontramo-nos todos os dias. (Sou capaz de te rastrear pela Paris e mesmo pelo mundo inteiro se for necessário um dia.)
– Admiro-te, tornaste-te um escritor…
– Uma escritora, desculpa…
Eu uivo meu corpo meu corpo que rejeitas, meu sangue, minha carne e minhas lágrimas.
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Volto para o hospital, só trancada presa num quarto, recorro às palavras.
Peço o seu auxílio.
O meu corpo flutua sob os medicamentos.
Não existo mais.
Pego no lápis e escrevo.
Digo-te que sou uma vagina, um buraco.
Sou feita de baba e de sangue.
No meu sexo, posso carregar a vida.
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E sempre drogada Vou uivar num meeting, entre duas estadias no hospital, que sou a mulher livre.
As minhas prisões, as minhas prisões interiores.
Compreende que tenho cabelos na cabeça que os lavo quando tenho um encontro contigo.
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Telefono para a casa da tua amante.
A tua nova amante é professora. Telefono-lhe durante as suas horas de serviço.
Quando eu era professora, tu ias vê-la quando eu estava na escola.
Os meus seios colam-se ao nylon do meu sutiã e não ouço mais todas as palavras que cospes ao telefone.
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Deus, já os primeiros espargos da primavera.
O meu coração fere-se.
Gostava de cozinhar em vez de escrever.
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