arrastar os pés pelos montes
de folhas secas de plátano
de casa até ao cantinho
da várzea em colares
segurando a mão de uma gigante
mãe. brincar às escondidas, à noite,
dos meus irmãos, com o nosso
primeiro cão, o bóris,
cabendo na palma do meu pai
com um maço de sg gigante.
descobrir e assustar-me com besouros
que voavam uma vez
desenterrados do banco de areia.
festas de anos sem amigos
em setembro e o outono
a aproximar-se da roupa. trocar
uma mãe por outra
quando a primeira partiu
com um dos meus irmãos doente
e voltar a ela quando tudo estava bem.
ganhar o primeiro prémio
de caligrafia, passando a escrever
a caneta, e mantê-la até hoje,
(a caligrafia). aprender
o silêncio com o meu pai
que só hoje o desmancha.
não aparecer na maior parte
das fotografias de família.
chamarem-me de Michelin,
chorar o primeiro choro de morte
lembrar tudo pelo cheiro
partir vidros à bola
esconder as chaves dos cacifos
para ver as meninas na sala de aula
com os seus vestidos de bailarina.
ser vilipendiado publicamente
como forma de castigo por uma
brincadeira de criança.
ser acusado de mentiroso
e não saber porquê
e começar a escrever
para guardar
para ninguém
para todos sem excepção
para não esquecer
e celebrar porque sim
a minha única vida.
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