segunda-feira, 2 de novembro de 2009

o silêncio é sem metáfora

se tudo pode
estar em vez
de outra coisa,
um signo por
outro signo, nada
pode estar em
vez do silêncio.
onde ele está,
mal o dizes,
já não é,
nem outra coisa
será. o silêncio
é sem metáfora

3 comentários:

João Moita disse...

Caro Benjamim,

Antes de mais obrigado por visitares o meu blog. Em relação ao teu comentário deixa-me dizer-te que não há nada para ser levado a mal. Simplesmente também não há nada a acrescentar: o que é que eu posso dizer? Limito-me a fazer o que tenho de fazer. Seria igual se dissesses que eu era o maior e o mais original.
Li algumas coisas tuas (sou péssimo para ler em computador) e não desgostei, pelo contrário. Não compreendo porque te lamentas. No entanto escolhi este post para responder ao teu comentário porque vi nele uma imprecisão teórica (ao mesmo tempo que vi nele a influência das aulas a que te referes, influência de que também não estou isento e ainda bem). Mas, se o silêncio não pode ser representado também não pode ser nomeado. Isto é, o silêncio seria a sua própria ausência enquanto ausência de discurso e, nessa medida, de inteligibilidade. Na oração "o silêncio é sem metáfora" há uma incongruência gritante, porque ao nomeares o silêncio com a palavra silêncio já o estás a metaforizar, ou, se preferires, a usar um signo em vez de uma outra coisa que não pode ser nomeada. Nesse caso a palavra silêncio constitui-se metáfora e, mais, é a primeira e talvez única metáfora. Porque a palavra silêncio não opera por substituição, por mera representação, opera, isso sim, por sugestão. Nessa medida, a poesia será precisamente essa busca do silêncio que, como impossibilidade, não é representativo mas sugestivo ou, como prefiro, energético.
Em todo o caso, nós precisamos de falar. Afinal de contas tu conheces-me e eu não. No meu blog tens o meu email. Será que podias entrar em contacto comigo? Gostava de saber quem és.

Um forte abraço,

João Moita

fernando machado silva disse...

joão,

concordo que possam haver algumas imprecisões. se não as houvesse talvez não fosse um poema, não há uma coisa como um poema perfeito ou sequer a perfeição em si - e não seria a plena precisão o fim de qualquer interpretação?

de facto, temos de ter em conta a oração anterior: "onde ele está, mal o dizes, já não é". penso que seja aí o ponto que impossibilitaria a oração seguinte. diria mesmo que todo este ou qualquer outro poema que refira o silêncio, não está a falar do silêncio nem sequer o pode sugerir, porque a própria sugestão é negar a existência do silêncio - ele nunca está onde estamos.

bom, na verdade, a imprecisão é todo o poema e não a última oração, penso eu agora depois do teu comentário e de te responder.

entrarei em contacto, mas deixo-te aqui uma pista: lembraste-me que não podia fumar durante a frequência.

um abraço

João Moita disse...

Benjamim,

Temo que o meu comentário tenha acabado por adquirir um tom que não lhe queria dar. Por isso te peço desculpa.
Em relação ao que dizes, permite-me de novo discordar: penso que o silêncio pode muito bem ser sugerido, na medida em que a sugestão não se substitui a ele mas circunda-o, circunscreve-o, delimita-o. Sugerido pela metáfora, pode muito bem ser esse clarão em que o silêncio, ainda que impossível, é no entanto alcançado. Isto é, não dado, não entrevisto, não descrito, mas atingido.
Mas Benjamim, se outro mérito o teu poema não tivesse, pelo menos teve o mérito de me pôr a pensar sobre isto. Escolhi este post por me parecer polémico, mas como te disse, gostei de outras coisas.
Já sei quem és e continuo a achar que muito irreflectido se te pusesses a fumar durante o teste. Quase parecias o Mário Soares que fica está nas conferências a cheirar um cigarro apagado.
Abraço. Não te esqueças do mail.