tag:blogger.com,1999:blog-3480558172201498164.post8417532530318574410..comments2024-03-05T12:11:59.497+00:00Comments on donne moi ma chance: O Corpo Inglorioso. Uma leitura sobre Night of the Living Dead de George Romero e o Zombie (fim)fernando machado silvahttp://www.blogger.com/profile/04683526730921406042noreply@blogger.comBlogger8125tag:blogger.com,1999:blog-3480558172201498164.post-49202589692498932792012-01-25T01:00:11.274+00:002012-01-25T01:00:11.274+00:00Sem problema em relação a atrasos, está a valer a ...Sem problema em relação a atrasos, está a valer a pena esperar.<br /><br />Quanto a eu ter usado como mecanismo de identificação do Eu (e falas bem em referir eus no plural) a oposição em relação a tudo o que é outros, não estou a separar o indivíduo do colectivo. O outro é precisamente fulcral para criar a identidade do próprio, pois sem a presença de um outro(s) não há nada com que o indivíduo se possa constratar e determinar-se a si próprio. Aliás, segundo Winnicott é precisamente pela interacção com o outro e pelos sentimentos que o outro desperta (nomeadamente a agressividade) que se desenvolve a necessidade da diferenciação do self, já que o bebé na sua natureza egocêntrica vive quase que num uno primordial com tudo - todos estão ligados pois todos fazem parte do reino do bebé que é até esse momento de separação, essencialmente, centro e periferia do universo. Após isso, ao longo do crescimento, é em conjunto com os outros que se estabelece e consolida uma identidade.<br /><br />Na realidade o objectivo do indivíduo é obter uma reconciliação consigo próprio e com as suas identidades e uma reconciliação com o chamado "mundo externo" e os que nele habitam. Procura-se uma gestão equilibrada e prazerosa de todos os indivíduos que constituem o Eu e todos aqueles que constituem o Outro. Procura-se um ponto ideal de satisfação do indivíduo em que este sirva também um propósito para os outros e para a sociedade (aliás, é essencial para o sentimento de felicidade de um indivíduo a noção de que este contribui em algo para o seu mundo e para a sua raça - é essa a natureza humana quando não deturpada por séries perturbações neurológicas ou desenvolvimentais). Eu entendo este género de filme como um cenário radicalista em que pelo poder da metáfora se força a separação do Eu e do Outro para representar uma luta pela identidade do indivíduo, que julgo ser uma das questões essenciais no mundo ocidental se não de todo o ser humano.<br /><br />(Estive no bar da moeda, lamento não lhe ter falado então)Thttps://www.blogger.com/profile/15365266083696011223noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-3480558172201498164.post-56699603561282144612012-01-24T22:32:45.450+00:002012-01-24T22:32:45.450+00:00t,
não tenho bem a certeza, mas parece-me que os ...t,<br /><br />não tenho bem a certeza, mas parece-me que os problemas que estás a levantar acerca da individualidade se aferem antes à identidade. porém, também esta, para além de ser uma mistura, é uma construção levada a cabo por diversos dispositivos de normalização (uma vez mais, a leitura de foucault informa-nos disso). nesse caso falamos de uma luta por uma identidade - que mais de ser única é uma multiplicidade de forças (internas e externas ao corpo) em relação (de poder). não sei, sinceramente, até que ponto o Eu (mais correcto: eus) é tudo o que não seja o Outro; estamos imersos no mesmo Real, contruímos, contudo, mundos diferentes, ou seja, Realidade(s). eu não posso ser tudo o que não seja o Outro pela simples razão de que o Outro me toca e marca a sua marca no meu corpo, na minha identidade transformando-a qualitativamente. um modo de existência - o "ethos" ou o estilo, em foucault, deleuze, nietzsche - ou modo de subjectivação, a sua criação, a sua ascese (prática), o seu "telos", tudo isso nos diz mais sobre a identidade que, propriamente, a "essência". <br /><br />uma cultura que define a norma e o seu fora, bom, que outra cultura há? nascemos numa exactamente assim, a qual desde o século xix, senão antes, se vem intensificando cada vez mais. sinceramente não sei, t, que outra cultura será a ocidental (onde nasci e da qual posso falar).<br /><br />o que seria um corpo glorioso? o nosso é já um; a disciplina e a norma não nos elidem as forças, bloqueiam-nas, esquadrinham-nas, modelam-nas. forçoso é mobilizar-nos para a constituição de um modo de existência que potencie essas próprias forças. não sei se poderei falar em virtudes; sei que poderá haver um fundo de verdade (e o que será isso?) nas tão defendidas pelas religiões e filosofias embora sujeitas à crítica, ao relativismo. mas - e talvez seja uma forte influência das minhas leituras de adolescência sobre o anarquismo - mais do que uma ética ou moral essencialista e transcendental dever-se-ia lutar por uma ética vitalista ou materialista e imanente sujeita ao acontecimento: tudo começa no encontro entre dois corpos "despidos" ao máximo (e esse é já um trabalho ético de cada um para si) de qualquer conceito moralista, nús de "virtudes" e "pecados"; e os corpos procuram moldar-se um ao outro, carne com carne (metaforicamente e não). nesse encontro e nesse acontecimento (e o que interessa é somente esse instante) os corpos serão gloriosos, alguma coisa "maleficamente boa" surje: amor, amizade, respeito, responsabilidade, numa palavra, anarquia. esse momento, como um corpo se adequou ao outro não se repete noutro corpo; o terceiro corpo que surgiu no encontro não responde ao que vem ao encontro/de encontro. a cada instante, a cada acontecimento o seu encontro de forças, a ética cria-se e se dissipa de imediato para de novo ser criada. assim, o corpo glorioso igualmente está em contínua construção, simbolizar-se-á (e o símbolo significa, antes de mais, reunião de sentidos, encontro estético, de corpos de sentido(s)) se quiseres deste modo - mas eu tenho de pensar muito nisto e isto, talvez, nada mais seja que baboseira.<br /><br />bela discussão. se tivesse facebook clicava logo no like (eheheh).<br /><br />abraço<br /><br />(a cris também manda. ela disse-me que esteve no bar da moeda, foi aí que achas tê-la visto? ou na harmonia?)fernando machado silvahttps://www.blogger.com/profile/04683526730921406042noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-3480558172201498164.post-43825673285256390362012-01-23T15:55:03.684+00:002012-01-23T15:55:03.684+00:00Antes de mais obrigado por te dares ao trabalho de...Antes de mais obrigado por te dares ao trabalho de me dar aqui umas explicações. Começo a perceber melhor no que é que estamos a diferir. Falamos no fundo de coisas diferentes.<br /><br />A definição do próprio é daquelas questões que se mostram impossíveis de responder. Apesar de me considerar um evidencialista é difícil não recorrer a palavras como "alma" ou "essência", nem que de forma poética. A forma mais correcta de responder, se bem que talvez reduntante, é que o Eu é tudo o que não seja o Outro. A minha identidade depende por tanto de onde estão colocados os limites (auto-impostos ou não) da minha realidade. A individualidade será mais fácil de determinar pelo corpo, através da nossa identificação de objectos físicos, mas não é apenas o corpo que determina o nosso conceito de indivíduo. Ou estarei a confundir com "identidade"?<br /><br />E concordo que não se pode roubar a individualidade de alguém, mas pode-se criar uma cultura em que aquilo que sair mais da norma é castigado (e tal é a natureza humana por várias razões) e se incite a uma forma pré-estabelecida de pensar e de viver ao longo das gerações. Não é uma acção directa como roubar a vida a alguém e penso que todo o género de filmes sobre mortos-vivos poderão ser entendidos como uma metáfora a este fenómeno, tal como poderão ser entendidos como metáforas em relação a outras coisas. <br /><br />Já agora, o que entenderias por um corpo glorioso? Um corpo que simbolizasse nele todas as virtudes do ser humano? E se sim, que virtudes?<br /><br />(À parte da nossa discussão, penso que terei visto a Cristina num bar cá em Évora, se não ela alguém muito parecido. Hesitei por dúvida e não lhe falei. Caso tenha sido ela, manda-lhe um abraço que ficou em falta)Thttps://www.blogger.com/profile/15365266083696011223noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-3480558172201498164.post-15830085464133225242012-01-22T13:17:01.597+00:002012-01-22T13:17:01.597+00:00eu entendo o zombie como um símbolo e uma metáfora...eu entendo o zombie como um símbolo e uma metáfora daquilo que, se houvesse ressuscitação, o homem pode vir a ser, tal como george romero nos apresentou; ou seja, vendo que o homem falha, quaisquer que sejam as razões, no cumprimento da grande promessa do humanismo, ou da metafísica, ou da ligação ao divino no pensamento religioso (o bem, a liberdade, a felicidade, etc., não cumpre a universalização desses conceitos), o seu retorno não advirá num corpo glorioso mas antes inglorioso, na fixação ou congelamento de uma imagem que reúne todos os erros, as falhas, os "pecados". não são, pois, os zombies que nos roubam do quer que seja, somos nós; e também nada nos diz que o zombie não é uma individualidade, é-o. mas gostaria que me elucidasses quanto ao que entendes como próprio, o quê em ti, com probidade, podes afirmar como sendo próprio a ti: o que corpo? a tua "essência"? a tua subjectividade? <br /><br />não se rouba a individualidade, rouba-se a vida. e o que é ser-se um verdadeiro indivíduo?<br /><br />um grande abraçofernando machado silvahttps://www.blogger.com/profile/04683526730921406042noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-3480558172201498164.post-87458022715013541352012-01-22T11:10:27.914+00:002012-01-22T11:10:27.914+00:00olá t, desculpa esta demora na resposta; e, contud...olá t, desculpa esta demora na resposta; e, contudo, continuo a não estar de pleno acordo contigo:<br /><br />se individualidade há é essa expressa, antes de tudo o mais, pelo teu corpo, isolando uma vida de outra vida, uma organização já de si comunitária de corpos. o indivíduo é uma comunidade de corpos. nasces individual (embora com um laço a outro corpo, o cordão umbilical, ou mais raramente, sendo um caso extremo, unido a outro corpo: o siâmes). a individualidade é o teu corpo. a luta, já me parece ser de outra coisa.<br /><br />a individualidade que creio falares é antes uma construção da força neutra que é a vida, aquilo que fazes ao longo da tua existência ser tua propriedade. formas, formatas, enquanto simultaneamente outras vidas formam e formatam a tua. não se luta pela liberdade da individualidade, mas pela máxima potência dessa "tua" força neutra (abrir-lhe caminhos, explorar as suas capacidades, que depende em tudo dos encontros com outra vidas, estabelecendo relações de força, que tanto a engrandecem - o amor, p.ex. - ou a diminuem - o trabalho, p. ex.). várias são as estruturas, os dispositivos (foucault) que nos subjectivam, que forçam a multiplicidade que somos (a própria consciência é uma multiplicidade e não uma unidade tripartida como o aparelho psíquico freudiano) a se reger por um reinado do uno, expressado por construções como ego, indivíduo, subjectividade (essa essência única), pessoa e mesmo individualidade; é uma formação histórica, política, social decorrendo de uma normalização das forças que compõem a vida. a luta deve ser pela vida e não pela individualidade a qual recairá, o mais das vezes, no egoísmo, no egotismo; melhor, lutando pela tua vida lutas, necessariamente, pela tua individualidade, pelo corpo. aí, sim, posso concordar contigo embora recuse o termo individualidade, luta-se por uma construção desapegada dos processos de normalização. mas parece-me que a questão do zombie está a ser lida por ti de modo diferente; e já te respondo porquê depois de vir com os cães da rua.<br /><br />abraçofernando machado silvahttps://www.blogger.com/profile/04683526730921406042noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-3480558172201498164.post-71062300810756436762012-01-18T23:54:27.202+00:002012-01-18T23:54:27.202+00:00Sem problema.
Não concordo que a luta pela indivi...Sem problema.<br /><br />Não concordo que a luta pela individualidade e a luta pelo ego sejam sinónimos. É possível lutar pela individualidade do próprio sem ser necessariamente movido pelo ego. Além do mais, não se trata apenas da sobrevivência do próprio - luta-se pela liberdade de individualidade de todos. Os zombies roubam as pessoas dessa capacidade para se ser um verdadeiro indivíduo. Não se trata da vontade da pessoa de ser única no meio de uma multidão de inconscientes mas sim da vontade de que a individualidade sobreviva e se proprague por todo o mundo.Thttps://www.blogger.com/profile/15365266083696011223noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-3480558172201498164.post-62167343181289050382012-01-18T18:05:07.486+00:002012-01-18T18:05:07.486+00:00obrigado T, mas devo pedir-te desculpas por não te...obrigado T, mas devo pedir-te desculpas por não te ter avisado da minha ida a évora, segunda passada, para apresentar uma versão mais reduzida deste texto conjuntamente com a projecção do filme na harmonia. espero que me desculpes.<br /><br />agradeço-te o comentário, mas tenho de discordar contigo num aspecto. a luta pela sobrevivência num mundo a ser tomado pelos zombies não pode, de todo, cair na individualidade, mas antes e justamente na anulação do ego, na procura da cooperação (se é que percebi bem, ou estás a falar da sobrevivência dos próprios zombies?) e em que sentido falas de mais-valia no que concerne ao governo? uma mais-valia o gesto de incluí-lo na crítica que o zombie de romero propõe, em vez de abstê-la de uma leitura política?<br />é certo que o tema da irresponsabilidade do governo e do conhecimento científico está já muito batido, porém nada ainda, na verdade, mudou. o capitalismo (p.ex. a máquina hollywood) sabe sempre aproveitar-se das críticas, inseri-las no seu discurso e repetir o gesto para a sua própria mais-valia, fazendo com que a crítica se torne num cliché e adormeça qualquer revolta. a variação seria, talvez, um filme que um grupo de pessoas visse e que espontaneamente agisse como uma massa de zombies infectando todos os outros, mas desta vez com um "cérebro funcional". o que achas?<br /><br />abraçofernando machado silvahttps://www.blogger.com/profile/04683526730921406042noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-3480558172201498164.post-13299818939553038502012-01-18T01:10:40.456+00:002012-01-18T01:10:40.456+00:00Bem, fantástica esta análise - e acima de tudo bem...Bem, fantástica esta análise - e acima de tudo bem trabalhada. Não julgo poder adicionar seja o que for mas talvez possa lançar alguns elementos de discussão, talvez interessantes apesar de vindos de um leigo.<br /><br />Quanto à explicação da origem dos zombies, ela poderá retirar o elemento cru de terror. Geralmente concordo que a explicação da origem do bizarro muitas vezes é melhor ficar oculta do espectador ou leitor (principalmente porque é muito difícil de ser bem executada). Mas visto que os zombies são uma metáfora para a mentalidade da maioria, das massas, a participação do exército/governo pode ser uma mais-valia. O herói encontra-se só, não será salvo pelos que estão em poder pois eles também são seu inimigo. Só lhe resta tentar sobreviver num cenário apocalíptico em que a sobrevivência é tudo menos certa. Daí a importância também do facto de os zombies infectarem a doença nos que são amados pelo herói - uma ideologia, o capitalismo, o culto do não-pensar, da busca do prazer imediato ou da confiança dos que estão no poder são coisas que podem absorver aqueles que amamos, fazendo que eles se tornem parte da massa descerebrada. A luta pela sobrevivência dos mortos-vivos é no fundo a luta pela individualidade, pela sanidade e pela integridade intelectual (acho sempre piada por isso mesmo ao cliché dos zombies, por não terem um "cérebro" funcional tentam eliminar e consumir o cérebro de outros).<br />Por isso na minha opinião a incompetência do governo é uma mais-valia. Infelizmente já se tornou um lugar-comum neste tipo de filmes e poderia/deveria variar-se um bocado.<br /><br />Um abraço.Thttps://www.blogger.com/profile/15365266083696011223noreply@blogger.com